Quando tudo o que mais desejas é o fim do dia, o sono (que se possível seja eterno), o descanso, a fuga – ainda que temporária – de tudo, eis que a insônia vem e diz para que fiques mais um pouco.
Olhe, olhe bem no rosto de todos os teus medos.
E o olhar é inevitável e te entorpece. Para tua surpresa, não consegues chorar. Sentes um torpor que te impede de relaxar os próprios músculos. Sentes esse olhar te tornar mais e mais cansado, mas também te sentes incapaz de fechar os olhos. Na verdade, já dói.
Sentes o medo se esgueirando, vai dos pés, passa pelas mãos e, por fim, impede que te movas. É uma pulsação estranha, está bem ali nas tuas veias. Sentes de fato algo estranho sob a pele. O torpor aumenta. Enfias o rosto no travesseiro, sente a respiração se tornar mais e mais lenta. Desejas de fato que sufoques, mas sabes que não será possível.
Ainda não chora. Estás mais irritado do que triste. Já não bastam todos os dias, todas as horas, ainda agora precisas passar por isso? Continuas imóvel, a cabeça começa a doer: finalmente aquela sensação de enrijecimento explodiu ali.
Te dás por vencido. Levantas e vais escrever.